quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Delta de Vênus | Sexo e Poesia

Anaïs Nin já nos 50 ou 60 anos.
"Na adolescência, eu e meus amigos andávamos pelo centro, todo os finais de semana, em busca de curtição e oportunidades. Um deles sempre dizia: "Cara, eu sinto que hoje alguém vai ficar com alguém". No final, só ele ficava com alguma garota, enquanto o restante prestigiava com maior louvor (ironia) a classificação de azarados. No meu caso, o Patinho Feio. Nossos conceitos eram quase parecidos. Ambos aclamavam por ter uma namorada - alguém para dividir os bons momentos (e os ruins também). Tínhamos uma percepção, um pouco, conservadora demais. Garotas mais "tranquilas", que não ficaram com muitos, e de preferência, nunca tenham tido relação sexual. Parece meio radical, mas nem tanto. Ingênuos, para nossos 15 a 17 anos de idade, mas com o tempo, toda essa ideia de conservadorismo não extremista (tá bom, só um pouquinho) foi se evaporando como água fervente numa estiagem, dando espaço para um ar mais respirável. Nos tornamos mentes abertas."

Assim como, Clarice Linspector, Anaïs também foi escritora. Desde pequena ela já escrevia seus diários, que mais tarde se tornariam documentos importantes para a literatura e futuras geração. Para saber mais sobre a biografia de Anaïs, vou deixar disponível para o blog de Thereza Pires, sendo o texto mais significativo que já li.

Chá com Anaïs. Você recusaria?

O livro
Originalmente, foi escrito nos anos 40, sendo publicado oficialmente em 78. A maioria de seus livros foram publicados após a morte de seu marido Hugo, devido o fato de se tratar de seus diários, relatos de suas aventuras sexuais extraconjugais, o que poderia ter comprometido e até traumatizá-lo. Coitado. Eu senti pena dele quando assisti Henry e June. Por que ele foi enganado todos esses anos? Por que ela traia dessa maneira? Até a empregada da casa sabia e acobertava as safadezas de Nin. Não sei, tirando o fato de traição, seria uma resposta ao mundo de que a mulher tem seus próprios instintos e sua liberdade de pensamento, quebrando paradigmas de um pensamento comum de uma sociedade conservadora.

Delta de Vênus é uma coletânea de diversos contos fictícios (podendo ser verídicos) sobre o erotismo, a pedido de um desconhecido chamado "O Colecionador", com fins de consumo próprio - resumindo: se masturbava - pagando um dólar por cada página. O tal colecionador não ligava para o romantismo. Ele queria a coisa explícita, mesmo, direto ao ponto. Algo "mecânico" que Anaïs não concordava, pois o sexo em si não era nada sem algo que induzisse ao ato. Mesmo assim, ela procurou escrever de uma forma poética e realista, unindo o sexo e a poesia, de forma única e bem aceitável.

O filme
O filme foi lançado em 1995, com direção de Zalman King. A trama se passa nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, em 1940, e Paris estava já situada com a presença de alguns membros do Fascismo. Não gosto muito de colocar a sinopse, pois aqui ficaria muito clichê, mas vamos para uma rapidinha: A trama gira em torno de Elena, personagem principal do filme e do capítulo de mesmo nome (conferir página 107 da edição da L&PM Pocket), que vivencia em Paris de forma loucamente apaixonante e aventureiro. A versão cinematográfica só toma o livro como base, pois há várias diferenças entre ambos. Spoiler: No filme, ela conhece Lawrence, um escritor romancista; no livro, ela já conheceu ele.

De fato, eu achei o filme muito chato no começo, não pelas cenas picantes, mas sei lá, tava meio meloso demais. Depois vi que estava bem interessante, ainda mais pela jogada de dupla identidade involuntária que o filme mostrou. Elena também escrevia eróticas para um tal de Colecionador, entregando sempre para seu amigo, Marcel. Ela dizia que o Colecionador fazia pouco caso da poesia nas histórias, dizendo querer algo direto ao ponto, só sexo, mesmo. Deu pra sacar essa dupla personalidade? Seria Elena e Anaïs a mesma pessoa?

Outra coisa que me despertou o ânimo foi a participação de outros personagens de outros capítulos, mesmo em poucas durações de cenas, aparecerem na trama: O marido que pagava aos homens estranhos para transarem com sua mulher, pois ela desejava caras que nunca mais iria ver; o corpo de uma mulher encontrada boiando na água, sendo apanhada por dois homens num barco, possivelmente, um deles sendo Pierre, que curte uma necrofilia; e o mágico negro que seduz as mulheres, hipnotizando elas, e depois partem para o abraço, e quanto a Elena, ficava só espiando. Humm... Safadinha!
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Delta de Vênus é visto como um símbolo de liberdade, não só para as mulheres, mas também para todo público LGBT, mostrando que desde aquela época, pela Paris, era natural os diversos relacionamentos. Não uma forma de citação de suruba e coisas do tipo, mas são coisas que eram normais. Ora! nossos amigos yankess ensinam, desde cedo, os filhos a usarem armas de fogo. Os chineses amarram porcos em cordas e os usam como peso para uma competição besta, ou matam bichos por nenhuma razão. Tudo na boa. Por que não podemos aceitar esses fatos do livro na vida real? Ainda mais se tratando de um dos nomes mais influentes para toda uma geração.

Cena de Delta de Vênus, de 1995.
Rapidinhas (cliquem nos nomes destacados para acessar o link incorporado)
  • Na L&PM Editores está disponível as obras de Anaïs com um resuminho de cada livro;
  • Acesse o Textos de Thereza Pires para ler sobre a biografia da autora;
  • Inácio Araujo, crítico de cinema, comenta sobre o filme de 1995;
  • E no YouTube está disponível o filme legendado, caso queiram assistir. 

Por hoje é só, obrigado.






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